Em Cancun peguei o ferri, uma embarcação pra Ilha de Cozumel. Após check-in fui pro hotel onde ficava a concentração do iron a fim de pegar o kit.
No sábado à tarde fui pra área de transição entregar a bike
e sacolas de transição, onde fui informado que o percurso de natação seria
modificado e reduzido de 3800 para 3100m devido a forte correnteza do mar.
No domingo acordei bem cedo, tomei café e novamente fui pra
área de transição, onde normalmente é dada a largada pra natação. Fomos
transportados para um hotel e largamos de dentro da água em uma linha reta até
o local da T1 (natação/bike) e a favor da correnteza. Dei uma bobeada e acabei
largando muito atrás, pegando muito congestionamento, mas a correnteza ajudava
e a velocidade era muito grande até aproximadamente 500m da chegada, quando a
maré mudou de direção e a coisa se complicou, tive que socar o braço pra render
um pouco. Durante todo o percurso o fundo do mar era visível, com muitos corais
e pela posição das plantas aquáticas dava para ver o sentido da correnteza. Sai
da água com 00:49:43” e após T1 em 04:40”, sai pra pedalar já imaginando o
tempo final... “É hoje” e bem otimista.
Na inicio da bike, desconfie da velocidade muito alta.
Um amigo me alertou que na via costeira, num percurso de aproximadamente 6 km,
o vento contra era de assustar. Entrei na via costeira e nada de vento contra,
olhava para o ciclo computador e via 38 a 42 km/h, o que virá pela frente?
Visualizei uma placa “COSTÃO SUL” e em seguida uma curva, a bike parece que
brecou, eram vinte quilômetros e vento contra, e ki vento. Era difícil manter
26... 28 km/h. Ruim pra mim, ruim pra todo mundo, vamos embora. Depois vieram 8
km de vento lateral na avenida do aeroporto. Fechei a primeira volta (60 km)
com 33 km/h e a cabecinha começou a fazer contas. Terminei a segunda volta com
33 km/h também. Estava me sentindo muito bem e decidi que aumentaria a força na
ultima volta. Nas duas voltas notei que muita gente pedalava em pelotões, o que
não é permitido e os árbitros faziam vistas grossas, mas não quis arriscar uma
punição e continue não fazendo uso do vácuo. No final da segunda volta um
pelotão com uns trinta “irons”, mais popularmente chamados de “vaqueiros” ou
“sangue-sugas”, passou por mim e abriu uma pequena distancia. No primeiro posto
de água encostei nele e mantive-me atrás, pois reduzem a velocidade. Peguei e
tomei agua, joguei a garrafinha no acostamento e resolvi ultrapassar o pelotão.
Foi ai que um infeliz e sem noção, ao invés de jogar a garrafa pro acostamento
a jogou pra traz e travou minha roda traseira, estava na posição de clip e não
tive o que fazer, CHÃOOOO. Dei uma
avaliada na situação e resolvi voltar pra prova, péssima decisão. Com a queda o
freio dianteiro desregulou e uma das sapatas pegava na roda, parei e arrumei.
Pedalei mais um pouco e o cambio traseiro começou a pular marcha, parei
novamente e uma borracha, usa pra amarrar equipamentos reservas tinha se
prendido na catraca, arrumei e bora pedalar novamente. Problema, começou a dar
câimbras quando pedalava forte e também quando parava, tinha que manter uma
cadencia mediana e não rendia. Via a media cair rapidamente e não tinha o que
fazer, ai a cabeça entrou em parafuso. Comecei a imaginar como seria quando
chegasse no tal costão sul? O corpo esquentou novamente e as câimbras sessaram, ufa... até que
enfim algo pra ajudar, vou continuar. Terminei a terceira volta com 30 km/h de
media e 05:59:55”. Pra quem estava fazendo as contas pra fechar a bike de 5:15
a 5:20, o que dava umas 6 a 6:10” de prova, simplesmente ridículo “imaginei”.
Era fechar a maratona pra 3:50 a 4:00h e teria um final por volta de 10 horas,
ou quem sabe, o sonhado sub 10.
Na T2, com 6:00”, lavei bem os ferimentos e quando sai pra
correr encontrei minha esposa, dei uma parada pra deixa-la despreocupada e ouvi
“vai que você consegue”, fui, doía tudo. Faltavam 3 voltas de 14 km. Fiz o
retorno da primeira perna de 7 km com 38 minutos e nesse percurso ultrapassei 3
concorrentes, marcados com um “I” na panturrilha, minha categoria. A cada
concorrente que ultrapassava ficava imaginando “a performance desse cara não
tem nada a ver com a minha” devo estar muito atrás de ponteiros. Pra ter alguma
chance mínima de ir pra um podium teria que arrepiar na maratona, mesmo assim
sem a certeza de conseguir. Tomei uma sabia decisão... vou curtir a prova e
diminui o ritmo. O clima alternava entre pancadas de chuva, correndo nos pontos
baixos com água até o tornozelo e sol com forte calor. Ficava interessante a
cada mudança de faze, hora ardia por causa da água da chuva, hora ardia por
conta do suor. Fechei a maratona em 04:42:46” com tempo total de 11:42:34”, 11º
dos 51 que terminaram a prova e dos 58 que largaram na categoria. Na
classificação geral em 628º dos 1859 que chegaram.
A foto de chegada nem vou comprar: fiz o Nome do Pai e
agradeci a Deus. A foto saiu “cabisbaixo” e sem noção do que tinha acontecido,
a cabecinha não foi feita pra aceitar muito facilmente as coisas.
Na segunda feira acordei todo ralado, porém sem dor
muscular, estava me sentindo inteiro, por isso que a decisão de diminuir o
ritmo e curtir o restante da prova foi sábia. Após a prova faria ainda um tour
por Cozumel, Cancun e Orlando nos USA para aproveitar a viagem.
Resultado da queda: Ralada feia no ombro, cotovelo, joelho e
perna inchada do lado direito. Do lado esquerdo, tornozelo, joelho e parte
superior da coxa com contusão, roxos e inchados, sem contar três unhas roxas
(correr com o tênis molhado), foi ai que entendi a gravidade da situação e o
que tinha passado na prova, então, com a cabeça mais fria deu pra aceitar que
foi um excelente resultado e até agora não entendi porque não abortei a prova,
teria sido uma decisão mais sabia ainda. Talvez pela cabeça dura e espirito
guerreiro...
“bora descansar e passear porque em janeiro começam os
treinamentos pro IRONMAN BRASIL 2014”.
Escrito por Paulo Pitton